Nas últimas duas sessões da Oficina de Escrita, a Diana Barreto construiu a sua narrativa. Um texto que nos remete para uma reflexão sobre os valores transmitidos na educação dos filhos.
Uma casa de sonho
Rita era uma modelo e atriz muito famosa que vivia numa casa situada na
aldeia de Valeurs. A sua moradia era linda, confortável e tinha um jardim
enorme a rodeá-la, enfim, era uma casa de sonho. Presentemente, a felicidade
reinava no seu lar, contudo ainda se lembrava do dia em que encontrou uma carta
da sua pequenita Constança dirigida ao Pai Natal.
Querido Pai Natal
Este Natal só lhe vou pedir uma coisa: uma casa nova,
tudo dividido, com quartos para cada um, um jardim onde possa ter as minhas
flores, etc.
Desculpe o trabalho.
Atenciosamente
Constança
P.S. Esqueci-me de dizer “por favor”.
Ao ler a carta é que se apercebeu do drama da sua pequenita.
Rita tinha dois filhos gémeos, um rapaz, o José, e uma rapariga, a
Constança. Para o rapaz a casa era perfeita, pois tinha um jardim enorme para
jogar futebol, uma cave com apenas uma janela, com pouca claridade, perfeita
para brincar ao quarto escuro. A sala de estar, também, estava perfeita para o José,
pois tinha um écran gigantesco, onde via os seus programas favoritos de
desporto e de bonecada maluca.
Para a Constança, aquela casa era como o gato odiar o cão. O jardim era
suposto ser dividido pelos dois irmãos e a sua metade estar cheia de flores multicolores,
mas não, o jardim estava todo por conta do seu irmão. Como se não bastasse,
ainda tinha de partilhar o quarto com ele. Não era bem partilhar, pois o irmão
ocupava o espaço todo. Não tinha um único móvel para colocar os seus livros.
Rita recordava-se que a sua pequenita se queixava muitas vezes, mas nunca
valorizara esses queixumes, pelo que nada fazia para alterar a situação.
De facto, naquela altura nem tudo estava a correr bem na sua casa, mas ter
lido aquela carta fez toda a diferença.
Rita percebeu que tinha de impor uma mudança nos hábitos. Assim, foram
surgindo algumas regras: o jardim é para todos, deixa de ser apenas para jogar
futebol, o quarto para as visitas passou a ser para a Constança…tudo se foi
transformando e a casa, também, passou a ser de sonho para a Constança.
Os seus filhos foram crescendo e agora eram dois jovens inteligentes,
bondosos, responsáveis e colaboradores.
Como seriam os seus filhos se não tivesse lido a carta ao Pai Natal escrita
pela Constança?
Como seriam os seus filhos se não lhes tivesse imposto algumas regras?
Nunca o saberá, mas está convicta de que as qualidades dos seus filhos devem
muito às alterações que lhes impôs durante a sua infância.
Rita adorava a sua vida partilhada com os filhos. Constança ajudava-a na
organização das “Passagens de Modelo” e na escolha das roupas para as suas
representações. José como adorava música, era ele que escolhia as músicas e as
passava durante os desfiles.
De vez em quando, pensava no que teria sido a sua vida sem aqueles
empregos, pois tinha passado uma fase difícil na sua vida até perceber o que
gostava realmente de fazer. Para agricultora não iria, para escritora, também
não, pois jeito para escrever não tinha.
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