27.2.16

"A melhor carta" da Rita Durão

No âmbito da Oficina de Escrita dinamizada pela professora bibliotecária na EB Alexandre Herculano, a Rita Durão escreveu uma carta a fim de concorrer ao concurso "A melhor carta" promovido pelos Correios de Portugal (CTT) e pela Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM).


O desafio foi escrever uma carta com o seguinte tema:

"Imagina que tens 45 anos e escreve uma carta a ti próprio".









Querida Amiga
Escrevo-te, agora, pois soube há pouco que te vais tornar num livro em branco, vais perder a capacidade de recordar o passado ou lembrares-te de estar presente, vais deixar de cumprir tarefas por mais rotineiras que elas sejam, assim como a tua forma de te expressares e o pensamento vão ficar atrapalhados.
Como sempre fui, continuo a ser um pouco rebelde e terei todo o gosto em contrariar o destino, pelo que não vou admitir que o teu livro da vida fique em branco. Esta é a primeira carta de muitas outras que irei escrever, pois as memórias de quarenta e cinco anos são muitas e não quero que as percas, serão o teu elo ao passado, logo, não deixarei que o teu livro fique em branco. Recordarás as aventuras vividas com os amigos, os teus feitos tão elogiados e as alegrias sentidas junto da família.
Assim, não te esquecerás de quem foste e de quem és, dos teus gostos e de quem gostas, dos mimos que recebeste, do que te fez rir à gargalhada…
Irrequieta desde bebé, começaste muito cedo a pregar valentes sustos à tua família. foi o que se passou quando tinhas, apenas, três anos e engoliste uma moeda de cinquenta cêntimos ou quando correste para a piscina sem ligares ao chamamento dos teus pais. Enfim, valeu-te teres uns pais muito atentos que te protegeram e evitaram que te magoasses.
Quando entraste para o Infantário, as tuas experiências artísticas não tinham limite. Se um dia agarraste numa tesoura e cortaste o teu cabelo, noutro dia cortaste o cabelo a um colega que, como deves calcular, ficou com um corte muito original. Do mesmo modo, adoravas utilizar o pincel e para que não pintasses em locais indevidos, como aconteceu várias vezes em casa e no infantário, os teus pais deram-te o privilégio de pintares o muro da tua casa. No meio de latas de tinta e pincéis, subindo e descendo o escadote, sempre sob o olhar atento dos pais, a tarde revelou-se delirante cujo resultado foi muito admirado pelos avós, tios e amigos, não faltando elogios à iniciativa dos pais e à artista do futuro.
Quanto à frequência da escola, não foi muito pacífica, pois detestavas escrever e davas muitos erros. Pelo contrário, eras a melhor em Educação Física e Expressão Plástica. À hora de saída, esperavas pela buzinadela do carro da tua mãe para ires ao seu encontro.
Quando estavas no 7ºano, participaste num Concurso Nacional de Desenho e conseguiste ficar em primeiro lugar na escola, assim como ao nível distrital e nacional. De facto, adoravas desenhar e foi um prémio merecidíssimo.
No decorrer do Campeonato Nacional, os teus colegas apresentaram-te aquele que seria o amor da tua vida. De facto, durante o Campeonato, quando deste uma queda, como não conseguias pôr-te de pé, ele agarrou-te ao colo e nesse dia nasceu um grande amor. Partilhavam o gosto pelo desenho e apreciavam os mesmos artistas musicais que eram os Beatles, Ariana Grande, Marone Five, Michael Jackson e Amália Rodrigues.
Quando estavam aborrecidos, adoravam dar passeios pela praia, sentir a brisa na cara e a areia debaixo dos pés, assim como ouvir a agitação da água do mar e as ondas rebentarem. Já sabes o que fazer quando estiveres mais triste, pede a alguém que te leve à paria. Sempre foi evidente o efeito mágico do mar e da praia no teu bem-estar, logo deves satisfazer o desejo que tens de fazer um cruzeiro.
Como eu dizia no início desta carta, esta é a primeira de um conjunto de cartas que te irei escrever para que tenhas presente o teu passado, para que te alegres com o que te alegraste, em suma, para que revivas o que viveste.
Recebe um grande abraço da tua melhor amiga
                                                                       Rita Durão                                        


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