"Uma semana na praia" era o tema que devia ser respeitado nos contos do 2ºciclo que concorressem ao concurso "Um conto que contas". Este concurso é da responsabilidade de uma Comissão Organizadora em colaboração com a Delegação Regional do Sul e Ilhas da Sociedade Portuguesa de Matemática e com o apoio da Universidade de Évora, do Centro de Investigação em Matemática e Aplicações, da Associação de Matemática Interativa e Lúdica e da Delta Cafés.
Atendendo aos objetivos do concurso, tais como "fomentar hábitos de leitura e de escrita (...) e incentivar à escrita de um conto que envolva conteúdos matemáticos", apresentei, na "Oficina de Escrita", a proposta de participação neste concurso .
Assim, ao longo das últimas semanas, na "Oficina de Escrita", a Diana Barreto construiu o conto que abaixo vem transcrito. De facto, com muita imaginação e articulando as diversas áreas do saber, tais como Matemática e Português, a Diana escreveu o conto "Uma semana de férias como castigo".
Muitos parabéns, Diana!
Uma semana na praia como
castigo
Na última aula de matemática do segundo período, a professora
chega à sala muito desesperada com as notas dos seus alunos:
- Meninos, estou triste e bastante desiludida com as vossas
notas. Vou ter de me reunir com os vossos pais para combinar o castigo que irão
ter. Como as poucas notas positivas são fracas, a penalização será igual para
todos.
Chegado o dia da reunião com os encarregados de educação, a
professora de Matemática apresentou a sua proposta de “castigo” que teve a
aprovação de todos os encarregados de educação.
Os alunos quando souberam qual era o castigo, nem queriam
acreditar no que lhes estava a ser transmitido pelos pais.
- Uma semana na praia!? – perguntava a Maria à mãe.
- O quê? Depois de amanhã vou para a praia durante uma
semana? – questionava o João.
- Estás a gozar comigo? Vá lá, diz qual é o castigo. – pedia
o Daniel.
Tinham tido notas fracas em Matemática e, em vez de terem trabalhos
redobrados, ofereciam-lhes uma semana de férias na praia.
No dia e hora combinados, lá estavam todos felicíssimos com o
passeio e férias inesperados.
- Quero que se sentem números pares sucessivos do lado
esquerdo e números ímpares, também seguidos, do lado direito. – ordenou a
professora.
- Sou o número dois…então fico com o quatro. Carolina, fico
contigo. – disse a Ana.
Apesar de alguma confusão e acesas discussões, lá se foram
sentando e, por vezes, corrigindo as primeiras decisões.
À sua espera, em cada assento do autocarro, estava uma
brochura com o título “Diário de Bordo” e uma esferográfica.
- Abram o Diário que está no lugar onde se sentaram e
confirmem se tem o vosso nome. Se tiver, é sinal que a primeira tarefa foi
cumprida com sucesso. Quem estiver no lugar errado, tem de se levantar e vir
ter comigo para conversarmos e descobrirmos onde é que têm de se sentar. –
informou a professora.
Após trinta minutos de viagem, o autocarro parou numa área de
serviço para atestar o depósito.
- O motorista acabou de me dizer que o depósito leva sessenta
litros de gasóleo. Como agora tem apenas quinze litros, quanto precisa de
colocar no depósito? Calculem e escrevam o resultado no diário de bordo.
De imediato, os alunos pegaram nos telemóveis.
- Ah! Esqueci-me de vos dizer que esta semana de férias na
praia vai ser uma aula prolongada de Matemática, pelo que não poderão utilizar
os telemóveis.
O silêncio instalou-se…sem abrirem a boca, mas entrecruzando
os olhares, começaram a perceber que as prometidas férias “tinham água no bico”
e muita Matemática à mistura.
Entretanto, a professora recolheu os telemóveis e colocou-os
dentro de uma caixa.
Perante esta dificuldade, cada um tentou calcular à sua
maneira. Enquanto uns escreviam no embaciado dos vidros da janela, outros
escreviam com o dedo na mão e ainda havia aqueles que fechavam os olhos na
esperança de que os números não lhes fugissem da memória.
- Quando chegarem ao resultado, escrevam-no no vosso diário e
indiquem a estratégia de cálculo.
O Francisco resolveu rapidamente o cálculo e levantou o braço
para que a professora o soubesse. Certificando-se de que todos já tinham dado a
resposta, a professora perguntou ao Francisco o resultado, ao que ele respondeu
prontamente:
- Para que o depósito fique cheio, o motorista tem de colocar
quarenta e cinco litros de gasóleo. Cheguei ao resultado pela identidade
fundamental da subtração.
A viagem continuou sem paragens, pelo que chegaram
rapidamente à pousada onde iam ficar instalados. Na receção, a professora
apresentou mais uma questão:
- Temos a reserva para seis quartos. Atendendo a que somos
vinte e cinco, dez rapazes e quinze raparigas, a contar comigo, digam-me como
ficaremos divididos pelos quartos e escrevam os vossos resultados no diário de
bordo. Os alunos começaram a calcular até que o Guilherme levantou o braço.
Quando a professora lhe deu autorização para falar o Guilherme respondeu:
- Como somos vinte e cinco ficarão cinco alunos em cada
quarto. Calculei isto usando a multiplicação.
Os risinhos dos colegas não se fizeram esperar. Ao reparar em
quem tinha começado com os risinhos, a professora dirigiu-se ao Daniel e
perguntou:
- Então, Daniel, qual é o resultado?
Ao ouvir isto o Daniel ficou atrapalhado e demorou a
responder. Por fim disse:
- Em cinco quartos vão ficar quatro pessoas e num cinco.
Também usei a multiplicação.
- Estão de acordo?
- Não, professora! Assim ficavam rapazes misturados com
raparigas – respondeu de imediato a Sara. Pelos meus cálculos, os rapazes ficam
divididos por dois quartos, ou seja, cinco rapazes em cada quarto. As raparigas
ficam distribuídas em quatro quartos: três quartos com quatro e um quarto com
três.
- Professora, pelos meus cálculos, são três quartos para as
raparigas e outros três para os rapazes. As raparigas ficam cinco em cada quarto
e os rapazes são dois quartos com três e um com quatro. – replicou o João.
- Uhhhh!!!!! – protestaram as raparigas.
- De facto, ambas as propostas estão certas, mas para não
haver tanta desigualdade entre os rapazes e as raparigas, tenho outra proposta:
os rapazes ficam divididos em dois quartos, as raparigas por três quartos e eu
ficarei sozinha num quarto. Assim, estão mais à vontade para conversar uns com
os outros. Que vos parece? – perguntou a professora.
Perante a justificação da professora de ficarem mais à
vontade, todos concordaram.
No dia seguinte, já na praia, preparavam-se para dar um
mergulho, quando ouviram a voz da professora:
- Antes de se lançarem à água, terão de ir recolher
conchinhas de diferentes formatos e cores. Apesar de intrigados, limitaram-se a
cumprir a ordem da professora.
Passados trinta minutos, a professora chamou-os para que construíssem,
no diário de bordo, uma tabela a fim de registarem o número de conchas de cada
forma ou cor. Ao terminarem, a professora pediu que fizessem um colar de modo a
utilizarem todas as conchas que tinham apanhado, respeitando uma determinada
sequência.
Apesar de terem percebido as ordens da professora, foram
muitas as vezes que precisaram de retirar as conchas do fio e voltar a
construir a sequência de modo a utilizarem as conchas todas.
No dia seguinte, à hora do almoço, a professora propôs um
novo problema:
- Neste restaurante a base das refeições são as saladas. Como
são saladas com muitos ingredientes, cada uma custa 4,50€. Quanto teremos de
pagar?
Nisto os alunos começaram a resolver o problema e a
professora teve de dizer várias vezes que a resposta estava errada. Entretanto,
surgiram os cálculos da Diana:
- Então, vinte e cinco vezes quatro são cem euros e vinte e
cinco vezes cinquenta cêntimos, são doze euros e meio. É fácil! Teremos de
pagar cento e doze euros e cinquenta cêntimos.
- Correto, Diana! Vamos, lá, então almoçar.
Passada uma semana repleta de problemas matemáticos, a
professora propôs no último dia mais uma situação:
- Sendo hoje o oitavo e último dia e já feitas todas as
refeições, sei que por dia gastámos cerca de dez euros por aluno e hoje só
pagámos cinco euros. Quanto gastou, cada um de nós, por semana?
Neste último problema quase todos os alunos acertaram:
- Claro que a resposta certa é setenta e cinco. Calculei dez
vezes sete, depois adicionei cinco. Na minha opinião este foi o problema mais
fácil. - disse rapidamente o Duarte.
À tarde, quando chegaram a casa os alunos estavam eufóricos:
- Ó mãe, ó pai! - chamava a Ana- Agora já percebi porque é
que a matemática é tão importante na vida. Eu adoro-a!
- Então a viagem
correu bem?
- Lindamente! A matemática é super fixe e divertida! -
exclamou o Daniel enquanto pulava de alegria.
- Então Maria, que tal foi?
- Mãe, foi muito divertido! E sabes que mais? Já gosto de
matemática.
Com tanta alegria e com tanta diversão, no período seguinte
todos os alunos tiraram positiva e nunca mais deixaram de gostar de Matemática.
Assim acaba esta história…com um final feliz.
Agora resta-nos aguardar pela decisão do júri.