6.1.16

Esdrúxulas, graves e agudas, magrinhas e barrigudas



"O acento agudo que queria ser til"
 
"Era uma vez um acento agudo que sonhava ser til e por isso passava o dia deitado e a andar com a barriga para cima e para baixo.
Nós, os outros acentos, bem podíamos puxá-lo, empurrá-lo, incliná-lo para a direita. Mas nada. Fomos até buscar palavras lindas como CAFÉ, BARNABÉ, JACARANDÁ, TRISAVÓ, PÃO-DE-LÓ...
Mal o púnhamos ao alto da palavra, na posição certa, ele deixava-se cair e lá se punha a andar com a barriga para cima e para baixo, mais parecia as bossas de um camelo a caminhar no deserto.
- Eu quero ser um til! - dizia ele.
- Mas não és! Tu és um acento agudo como o teu pai e a tua mãe.
- Não me interessa nada disso! Já disse que quero ser um til e vou treinar até ser mesmo um til.
Era mesmo teimoso o raio do acento agudo! E é claro que não conseguia ser um til porque, mal subia para cima de palavras como CAMÕES, PANTALEÃO, ou GUIMARÃES, ESCORREGAVA e vinha parar ao chão.
Mesmo assim não desistia. Barriga para cima, barriga para baixo, treinava sem parar, sempre com o sonho impossível de vir a ser um til.
Um dia, estava o nosso acento agudo a treinar, barriga para cima, barriga para baixo, quando viu aproximar-se uma minhoca verde linda. Vinha a minhocar tal e qual como ele, barriga para cima, barriga para baixo...
O acento agudo piscou o olho à minhoca verde. Ela sorriu-lhe timidamente a apaixonaram-se perdidamente um pelo outro.
Pouco tempo depois, o acento agudo desistiu de ser um til e pediu a minhoca verde em casamente.
Casaram-se, foram felizes para sempre e tiveram vários filhos a quem deram os nomes de Gastão, Sebastião, Simão e João".
 
 
Este é um dos contos da obra Esdrúxulas, Graves e Agudas, Magrinhas e Barrigudas, da autoria de José Fanha e com ilustrações de Afonso Cruz, livro que poderão encontrar na Biblioteca.
 
 


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