Ao texto "O misterioso armário", de Diana Barreto foi atribuída Menção Honrosa no concurso "Uma Aventura Literária 2020", promovido pela Editorial Caminho, na modalidade "Texto Original".
Muitos parabéns, Diana, pela tua capacidade de trabalho ao longo destes anos que tive o prazer de ter a tua participação na Oficina da Escrita. Espero que continues o teu percurso de sucesso.
Deliciem-se com as palavras e a criatividade reveladas pela Diana no seu texto
"O misterioso armário".
Tudo começou num dia que estava na
Oficina da Escrita da minha escola perante uma folha de papel branco e caneta
na mão. O desafio era escrever um texto original para participar no concurso
“Uma Aventura Literária”. A professora sugeriu que escrevêssemos sobre algum episódio
do dia a dia, mas com pinceladas de imaginação, de criatividade e de fantasia.
Só tinha cinquenta minutos para o
fazer. Tinha de ma apressar, contudo, por muito que me esforçasse, nada me
surgia na cabeça. Dei por mim a olhar para o relógio a ver os ponteiros a girar
enquanto esperava que alguma ideia aparecesse. A professora, ao notar a minha
falta de criatividade, abandonou a sala para “trazer inspiração”.
Estava, então, sozinha sem nada nem
ninguém ao meu redor. A minha ausência de ideias deve ter afetado o meu
cérebro, pois comecei a ouvir passos naquela sala solitária. Olhei para um
lado…olhei para o outro, mas, naturalmente, nada vi. Ri para mim mesma até
ouvir a porta do armário a abrir-se e a sair de lá um homem velho, barbudo e
com ar sábio. Ele perguntou-me se eu estava sem criatividade e eu,
surpreendida, acenei afirmativamente com a cabeça. Ao ver esta minha resposta,
convidou-me para entrar no armário. Esquecendo-me que estava na Oficina,
aceitei entrar com ele.
Lá dentro, incrivelmente, havia um
mundo cheio de cores, aromas, paisagens e pessoas. O amarelo de um sol radioso brilhava
num azul limpo do céu; o campo verde de relva estava pintalgado com flores
brancas e amarelas que eram beijadas por borboletas arroxeadas, rosadas e
alaranjadas; junto à relva, passava um ribeiro de água cristalina, onde
saltavam peixes vermelhos. Quanto aos aromas, o perfume da alfazema
misturava-se com o da glicínia, do jasmim-do-imperador, do jasmim-estrela e o
da terra molhada. De um lado escutava “Buzzz…Buzzz”, mais adiante
“Coach…coach”, junto ao ribeiro, “Quac…quac” e mesmo perto de mim
“cricri…cricri”. Até as pessoas, cada uma com as suas características, umas
alegres, outras sisudas; umas com andar pausado, outras apressadas; umas
solitárias, outras rodeadas de amigos…
Fiquei encantada a contemplar a
diversidade de energias existentes dentro do armário. Apressei-me a anotar tudo
no bloco que a professora nos tinha oferecido no início do ano para registarmos
ideias, escrevermos listas de palavras do que víamos, ouvíamos ou sentíamos.
Porém, o senhor não me deixou ficar
naquele sítio muito tempo. Em vez disso, conduziu-me para uma árvore de folhas
amarelas, tronco e ramos grossos. Com agilidade, trepou-a até um dos ramos mais
alto. Quando reparou que eu não estava junto dele, convidou-me a segui-lo.
Fiquei a olhar para ele hesitante, mas ele lançou uma corda forte para que eu
não estivesse tão receosa na subida. Agarrei nela e subi à árvore mais facilmente
do que imaginara.
Assim que o alcancei, sentei-me à sua
frente. O velho senhor estendeu-me uma das folhas da árvore. Depois pediu-me
que eu a amachucasse e a agarrasse com as duas mãos. Ao fazê-lo, uma imensidão
de ideias e imagens surgiram na minha cabeça. A cada segundo, surgiam mais e
mais e todas elas ficavam guardadas na minha memória.
Não sei ao certo durante quanto tempo
ali fiquei sentada à frente de um sábio no cimo de uma árvore. Só sei que,
quando recuperei a noção do tempo e do espaço, estava sentada na sala da
Oficina da Escrita a olhar para o armário.
Poucos segundos depois, entrou a
professora carregada de livros:
- Diana, trouxe alguns livros
bastante sugestivos. Se quiseres, esta semana pode ser de leitura e na próxima
escreves, então, o texto. Que te parece?
- Não é preciso, professora!