22.4.20

Oficina da Escrita - "Uma Aventura Literária" I

No dia 14 de abril, terça-feira, era o regresso à escola e à Oficina da Escrita. Foram vários os desafios e os projetos propostos e que entusiasticamente abraçaram. Alguns estão concluídos, mas ainda há outros que irão ser concluídos ao longo deste período.
Hoje vou apresentar-vos as histórias escritas para o concurso "Uma Aventura Literária". Entre as várias modalidades a concurso, escolheram Texto Original. Nesta modalidade, o tema era livre e o texto tinha de ter a extensão máxima de 1 ou 2 páginas manuscritas ou datilografadas.


Hoje apresento-vos as histórias do Afonso Garcia, da Camila Veloso e da Diana Barreto. Ao longo da semana irei apresentando as restantes.

Título: Era uma vez…
Autor: Afonso Garcia
Era uma vez um rapaz, como todos os outros, um rapaz que tinha sonhos, amigos, ocupações, mas sentia sempre que lhe faltava algo para se sentir realizado.
- Ninguém tem tudo! Toda a gente sente o mesmo que eu! – pensava para si o rapaz.
Um dia resolveu perguntar à mãe:
- Mãe, não me sinto completamente feliz! Acho que me falta algo…
- Tenho mais que fazer! Não tenho tempo para conversas! – respondeu a mãe.
O rapaz estava tão farto daquele sentimento que um dia tomou uma decisão:
- Chega! Vou-me embora!
Agarrou numa mochila azul e lá meteu pão, uma corda e um Drone, partindo de seguida.
Caminhou durante várias horas, mas ao sentir fome, sentou-se a comer um pedaço de pão. Estava a saborear o pão, quando escorregou e caiu num buraco. Subitamente, apareceu uma luz que se aproximou dele ficando cada vez maior. Quando conseguiu abrir os olhos perante tanta luminosidade, viu que envolto na luz estava um homem vestido de branco, com cabelo e barba compridos e duas grandiosas asas que cintilavam ao sol. Fez um gesto e surgiu outra luz, donde saiu um lobo bebé com umas pequenas asas.
- Esta é a tua recompensa! – disse o homem de branco.
- Recompensa!? Recompensa de quê? O que fiz eu? – perguntou o rapaz.
- Simplesmente por seres como és!
Assim que acabou de falar, o homem de branco desapareceu.
O rapaz estava confuso e atordoado, esfregou os olhos, uma e outra vez para se certificar que não estava a sonhar.
- Afinal não foi um sonho! Tenho aqui um lobo bebé!
O rapaz agarrou no lobo, saiu do buraco e continuou o seu caminho, não conseguindo deixar de pensar no que lhe tinha acontecido. Entretanto, o lobinho acordou…agitou a cauda…abriu as asas e com um olhar doce parecia implorar por comida. O rapaz deu-lhe um bocado de pão e o lobinho mostrou-se satisfeito. Apesar da sua pobre refeição, ficou com energia para passar o dia na brincadeira com o rapaz. Com o último raio de luz no horizonte, os dois abraçaram-se e adormeceram. Os dias foram passando entre brincadeiras e um naco de pão.
O lobo crescia e com ele o tamanho das asas. O rapaz tinha ficado sem comida e estava muito fraco. Então, o lobo agarrou nele, pô-lo nas suas costas e começou a voar. Quando avistou uma aldeia, dirigiu-se para a praça central onde o largou. Os habitantes da aldeia cuidaram do rapaz durante vários dias até à sua recuperação.
Quando conseguiu levantar-se, abriu a porta da cabana e nem conseguia acreditar no que os seus olhos viam. Havia inúmeros animais, todos eles com asas, tal e qual como as do seu lobo.
- Onde estará o meu lobo? – questionou-se o rapaz.
O olhar inquieto do rapaz não passou despercebido a um aldeão que ali estava perto.
- Aquele lobo é teu?
- Ah! Está ali, o meu lobo! Sim, aquele lobo é meu! – respondeu o rapaz.
- Tu és o nosso Salvador! – exclamou o aldeão.
- Salvador!? Eu não sou Salvador de nada nem de ninguém! Que conversa é essa? Com quem me estais a confundir? Sou apenas um rapaz normal!
- Rapaz normal!? Vou levar-te ao nosso líder!
Quando chegaram frente ao líder, o rapaz identificou-o de imediato, era o homem vestido de branco que lhe tinha oferecido o lobo.
- Tu, finalmente, encontraste-nos! Nós somos a tua família!
Ao dizer aquelas palavras, o portão abriu-se e, quando o rapaz olhou para trás, viu os seus pais. Correu para eles, abraçou-os e contou-lhes a sua aventura, a sua mudança interior, pois o vazio sentido anteriormente, tinha desaparecido.
Uns dias mais tarde, quando acordou, tudo estava diferente à sua volta, havia buracos no chão, animais e pessoas feridos e casas destruídas.
- Ele chegou! – gritou o líder da aldeia.
No céu, por detrás das montanhas, surgiu um grande monstro a cuspir fogo. O rapaz, muito decidido, saltou para cima do seu lobo e voou atrás do monstro, atacando-o e conseguindo imobilizá-lo. Parecia que a batalha estava ganha, contudo o mostro juntou as suas últimas forças para atacar ferozmente o lobo atirando-o ao chão, onde embateu com enorme violência. O rapaz foi sacudido das costas do lobo, tendo ido parar ao ribeiro. O rapaz não sofreu ferimentos, mas o lobo acabaria por morrer.
Os aldeões juntaram-se no centro da aldeia, onde cantaram e dançaram em homenagem ao lobo que deu a sua vida em defesa de todos os que ali viviam.





Título: Viagens reais e virtuais
Autor: Camila Veloso
No regresso às aulas, após a interrupção da Páscoa, o tema da conversa das minhas amigas era a viagem que tinham feito à Disneyland Paris. Aproveitavam os intervalos e a hora do almoço para contarem pormenorizadamente todas as suas aventuras. O seu entusiasmo era tão grande que contagiavam os colegas e, rapidamente, se popularizaram à custa da viagem feita.
Como os meus colegas, também eu fiquei com vontade de fazer a mesma viagem…bem, não sei bem se era de fazer a viagem se era de ter a popularidade das minhas colegas…
Um dia, quando cheguei a casa, perguntei à minha mãe:
- Mãe, podemos ir à Disneyland Paris, nas férias de verão?
- O quê!? No verão? E logo no verão!! Deve ser um preço jeitoso!!!
- Então, podemos ir no próximo ano pela Páscoa?
- Ó filha, não tens noção do dinheiro que íamos gastar! Não temos dinheiro para uma viagem dessas, seja em que altura do ano for!!!
- Sim, mas…
- Vai falar com o teu pai! – disse, cortando os meus argumentos.
- Pai, podemos ir à Disneyland Paris?
- Não!!! Íamos gastar muito dinheiro!!
- “Raios partam o dinheiro!”, pensei eu furiosa.
Fui para o meu quarto e atirei-me para a cama…com o olhar preso nas estrelas penduradas do meu candeeiro, adormeci…sonhei…
Quando acordei já não me sentia zangada, mas com uma curiosidade imensa em conhecer o parque temático Disneyland, em Paris. Fui para a minha secretária, liguei o computador e comecei a pesquisar. Após leitura de tudo o que encontrei, comecei a desenhar, a pintar e a escrever poemas sobre este parque temático e algumas das suas atrações. Foi assim que eu ocupei todos os meus tempos livres durante alguns meses.
No dia do meu aniversário, em outubro, ocupei parte da minha festa a mostrar o trabalho feito, o qual foi muito admirado por todos, amigos e familiares.
- Filha, sinto-me muito orgulhosa! És fantástica! – disse a minha mãe com os olhos a brilhar, repletos de lágrimas.
- Dá cá um abraço, filha! Amo-te muito! – disse emocionado o meu pai.
No dia seguinte, as minhas obras artísticas e literárias foram motivo de conversa nas aulas de português e de educação visual e tanto os professores como os meus colegas pediram para ver os trabalhos, o que eu prometi levar no dia seguinte.
Ao final do dia, quando regressava a casa, veio-me ao pensamento a minha grande vontade de ir à Disneyland Paris para ser popular entre os meus colegas. Com um sorriso nos lábios pensei: “Interessante! Afinal tinha conseguido popularidade pelo meu trabalho sem precisar de viajar!”.
- Cheguei! Quem está em casa?
- Chegaste, Rita! Tenho uma surpresa para ti! – gritou o meu irmão.
- Ah, sim! O que é?
- Senta-te aí e escuta! – ordenou o meu irmão.
Enquanto me sentei no sofá, o meu irmão puxou uma cadeira onde se sentou com a sua viola e começou a tocar e a cantar.
Eu nem queria acreditar, o meu irmão tinha musicado um dos meus poemas.
Quando acabou de interpretar o poema, levantei-me para lhe dar um abraço.
- Obrigada, mano! És um irmão 10 estrelas!
- Não, sou só 5 estrelas! Nós os dois juntos é que somos 10 estrelas!!!

- AH! AH! AH!

Título: O misterioso armário
Autor: Diana Barreto
 Tudo começou num dia que estava na Oficina da Escrita da minha escola perante uma folha de papel branco e caneta na mão. O desafio era escrever um texto original para participar no concurso “Uma Aventura Literária”. A professora sugeriu que escrevêssemos sobre algum episódio do dia a dia, mas com pinceladas de imaginação, de criatividade e de fantasia.
Só tinha cinquenta minutos para o fazer. Tinha de ma apressar, contudo, por muito que me esforçasse, nada me surgia na cabeça. Dei por mim a olhar para o relógio a ver os ponteiros a girar enquanto esperava que alguma ideia aparecesse. A professora, ao notar a minha falta de criatividade, abandonou a sala para “trazer inspiração”.
Estava, então, sozinha sem nada nem ninguém ao meu redor. A minha ausência de ideias deve ter afetado o meu cérebro, pois comecei a ouvir passos naquela sala solitária. Olhei para um lado…olhei para o outro, mas, naturalmente, nada vi. Ri para mim mesma até ouvir a porta do armário a abrir-se e a sair de lá um homem velho, barbudo e com ar sábio. Ele perguntou-me se eu estava sem criatividade e eu, surpreendida, acenei afirmativamente com a cabeça. Ao ver esta minha resposta, convidou-me para entrar no armário. Esquecendo-me que estava na Oficina, aceitei entrar com ele.
Lá dentro, incrivelmente, havia um mundo cheio de cores, aromas, paisagens e pessoas. O amarelo de um sol radioso brilhava num azul limpo do céu; o campo verde de relva estava pintalgado com flores brancas e amarelas que eram beijadas por borboletas arroxeadas, rosadas e alaranjadas; junto à relva, passava um ribeiro de água cristalina, onde saltavam peixes vermelhos. Quanto aos aromas, o perfume da alfazema misturava-se com o da glicínia, do jasmim-do-imperador, do jasmim-estrela e o da terra molhada. De um lado escutava “Buzzz…Buzzz”, mais adiante “Coach…coach”, junto ao ribeiro, “Quac…quac” e mesmo perto de mim “cricri…cricri”. Até as pessoas, cada uma com as suas características, umas alegres, outras sisudas; umas com andar pausado, outras apressadas; umas solitárias, outras rodeadas de amigos…
Fiquei encantada a contemplar a diversidade de energias existentes dentro do armário. Apressei-me a anotar tudo no bloco que a professora nos tinha oferecido no início do ano para registarmos ideias, escrevermos listas de palavras do que víamos, ouvíamos ou sentíamos.
Porém, o senhor não me deixou ficar naquele sítio muito tempo. Em vez disso, conduziu-me para uma árvore de folhas amarelas, tronco e ramos grossos. Com agilidade, trepou-a até um dos ramos mais alto. Quando reparou que eu não estava junto dele, convidou-me a segui-lo. Fiquei a olhar para ele hesitante, mas ele lançou uma corda forte para que eu não estivesse tão receosa na subida. Agarrei nela e subi à árvore mais facilmente do que imaginara.
Assim que o alcancei, sentei-me à sua frente. O velho senhor estendeu-me uma das folhas da árvore. Depois pediu-me que eu a amachucasse e a agarrasse com as duas mãos. Ao fazê-lo, uma imensidão de ideias e imagens surgiram na minha cabeça. A cada segundo, surgiam mais e mais e todas elas ficavam guardadas na minha memória.
Não sei ao certo durante quanto tempo ali fiquei sentada à frente de um sábio no cimo de uma árvore. Só sei que, quando recuperei a noção do tempo e do espaço, estava sentada na sala da Oficina da Escrita a olhar para o armário.
Poucos segundos depois, entrou a professora carregada de livros:
- Diana, trouxe alguns livros bastante sugestivos. Se quiseres, esta semana pode ser de leitura e na próxima escreves, então, o texto. Que te parece?
- Não é preciso, professora! 


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