Título: Livros
e Companhia
Autor:
Sara Domingos
Livros tristonhos amparam-se uns aos
outros nas prateleiras da biblioteca e os desabafos entre eles são constantes:
- Ai,ai! Que tristeza! Ninguém me
quer!
- Uff! Estou cansado de estar em pé!
Só não caio porque estamos todos encostados uns aos outros e bem apertadinhos!
- Que saudades do tempo em que as
crianças e jovens corriam para as prateleiras em busca das aventuras guardadas
nas minhas páginas…
- Coff! Coff! Esta tosse não me
larga! Deve ser da humidade! Ninguém me abre e não recebo o calor dos raios de
sol!
- Snif! Snif! Não consigo deixar de
chorar…era tão bom o tempo em que era segurado com carinho pelas mãos suaves
das crianças…página a página recebia uma carícia…alguns gostavam tanto da história
que me apertavam contra o seu peito e adormeciam abraçados a mim…
- Psiu! Vem aí alguém!
Era hora do intervalo e rapidamente a
biblioteca ficou repleta de alunos, uns sentavam-se para fazer rapidamente os
trabalhos de casa que não tinham feito, outros tiravam o telemóvel do
bolso…alguns nem iam para as mesas junto aos livros, pois corriam para os
computadores e também havia os que se sentavam nos confortáveis sofás para
conversarem ou verem uma revista.
Finalizado o intervalo, voltava o
silêncio e esvaziava-se a esperança de alguém trocar a aventura de um jogo no
telemóvel por uma vivida através das personagens de um livro.
Um dia, a professora bibliotecária
colocou uma caixa em cima do balcão com a indicação: “Sugestões para melhorar a
Biblioteca”.
Passado um mês, entre todas as
sugestões, a professora bibliotecária considerou que a proposta mais original e
interessante era a de ter animais na biblioteca. Então, recolheu alguns gatos
abandonados e comprou um aquário com peixes e tartarugas que levou para a
biblioteca. Posteriormente, foi lançando desafios para cada nome de animal, no
qual o nome tinha de ser inspirado em personagens de uma coleção de livros, num
conjunto de livros de uma prateleira ou nos livros de um autor.
Foi uma autêntica revolução na biblioteca.
Finalmente havia luz entre as páginas dos livros e o carinho confortava-os
depois de tantos anos esquecidos nas prateleiras, onde só eram movimentados
pela funcionária para lhes tirar o pó.
Agora, passou a ser natural ver os
alunos com o gato no colo a lerem um livro. Com esta iniciativa, a biblioteca
conseguiu mais leitores, mas também livros e animais mais felizes.
Título: Uma viagem à Cidade da Música
Autor: Sofia Farinha
As amigas ficaram eufóricas
com a notícia: iam participar no Encontro Europeu de Flautas Transversais! O
Ensemble de flautas da professora Joana fora selecionado para estar presente em
representação de Portugal! Ia ser uma grande aventura; iam conhecer pessoas novas;
iam tocar flauta; iam fazer amizades! No fundo, iam fazer tudo o que elas adoravam,
o único problema era terem de esperar dois meses e o amigo Garcia não ter sido
convocado...Humm, teria de haver alguma forma de conseguirem que ele também
fosse. Assim, juntaram-se e debateram a questão. Não viam como dar a volta à situação
e não podiam simplesmente pedir à professora Joana sem qualquer motivo
lógico...quando, de repente, a Sofia, que tinha lido o regulamento de fio a
pavio, lembrou-se: o Ensemble podia ter um acompanhador de piano e o Garcia
tocava piano! Perfeito! Foi desta forma que conseguiram reunir o bando de
amigos e tornar aquela uma viagem inesquecível para os quatro! Estavam longe de
imaginar o quão inesquecível iria ser!
Tinham-se passado 2 meses a
correr entre ensaios, tarefas da escola e demais preparativos e, finalmente,
estava na hora de eles irem viajar para Viena, “a cidade da música”! Eles
estavam todos tão entusiasmados que nem dormiram.
Chegaram a Viena e a
professora muniu-os de mapas, de contatos via Whatsapp e de muitas
recomendações quanto ao perímetro em que deviam permanecer e, por fim, lá os
deixou ir ver aquela magnífica cidade! Obviamente que acharam a cidade muito
bonita, mas o que mais gostaram foi o facto de estar ligada à música. Paravam
em cada pequeno pormenor que encontravam e deliciavam-se a comentar, a observar
e a fotografar. Excederam-se um pouco na hora marcada para o regresso...não foi
agradável ter de encarar a fúria da professora Joana mas compreenderam que
deviam tomar mais atenção e cuidado.
No dia seguinte, pela manhã,
a professora estendeu-lhes o seu sorriso simpático e eles perceberam que já
estavam perdoados. Ufa! Partiram cedo do hotel e o Ensemble dirigiu-se para o Encontro
que se realizava num pavilhão com diversos pequenos auditórios. Era tudo tão
fantástico que eles ficaram deslumbrados com a quantidade de flautistas,
flautins e artistas. Ali respirava-se música! E o quanto eles adoravam música!
No encontro, fizeram uma
atuação tal como todos os outros e foram almoçar. Fora-lhes dada a indicação do
seu espaço e das regras que deviam seguir quanto ao armazenamento dos seus
materiais, pelo que todo o Ensemble deixou as suas flautas acondicionadas, tal
como todos os outros. O almoço foi divertido, as brincadeiras, as risadas, a
alegria de estarem num país diferente a fazer o que mais gostavam: música!
Quando voltaram, já lá não
estavam as flautas das miúdas: da Sofia, da Mafalda e da Madalena. Ficaram todos
estupefatos a tentarem entender aonde poderiam estar: “alguém as mudou de
local” diziam uns, “alguém as levou já para o palco” diziam outros e os mais
silenciosos pensavam no pior... Durante um bocado, resolveram seguir todas as
suas pistas. A professora Joana foi falar com os responsáveis, os alunos foram
vasculhar todos os sítios que lhes pareceram credíveis mas depressa chegaram à
mesma conclusão: TINHAM SIDO ROUBADAS!!!!!!! Todos entraram em pânico, soltavam
pequenos gritos de angústia e choravam porque as flautas eram tão importantes
para eles e eles eram muito unidos! Eram as flautas que os faziam felizes juntos.
Chegou a polícia e começou a investigar: perguntas daqui, perguntas dali mas,
no fundo, não saiu de lá com nenhuma pista de quem as tinha levado. Os quatro
amigos, particularmente chateados com isso (o Garcia era pianista mas as miúdas
eram as suas grandes amigas!), resolveram armar-se em detetives, aliás já não
seria a primeira vez e aquele era um mundo que conheciam muito bem! Fizeram uma
reunião, no quarto das miúdas, de forma a tentarem entender como encontrar pistas.
Nesse sentido, a Sofia pediu aos outros que analisassem melhor a situação e que
pensassem se tinham ouvido ou visto algo invulgar quando deixaram as flautas. Eles
ficaram a pensar algum tempo até que a Madalena diz que tinha ouvido a Inge,
uma flautista da Dinamarca, a dizer que as suas flautas eram mesmo boas e que
adoraria ter uma, e, nesse instante, a Mafalda disse que viu o Frank, amigo da
Inge, muito próximo das flautas, sendo que, na altura, não suspeitou de nada e
a professora estava a reuni-los para irem almoçar. Não podiam acusar sem provas,
mas não podiam ficar sem as suas flautas! Assim, elaboraram um plano que iriam
pôr em prática no dia seguinte.
Foram os primeiros a ficarem
prontos para irem para o Encontro, a professora Joana estranhou aquela
disposição, afinal as flautas das miúdas tinham desaparecido mas, enquanto, não
tivessem indicações por parte das autoridades, mantinham o programa.
Uma vez no pavilhão, o
Garcia dispôs-se a ensaiar com o Ensemble, à exceção das miúdas que não tinham
as suas flautas; assim, a professora deixou-as ficar sentadas na bancada para
não lhes causar muita pressão, mas não foi por ali que ficaram...o seu plano
entrou em ação.
Separaram-se e resolveram
procurar vestígios das suas flautas por todo aquele espaço; todos os músicos
estavam a ensaiar, pelo que seria mais fácil investigarem sem que ninguém
notasse. O pavilhão era enorme e os locais onde procurar imensos, no entanto, quando
a Sofia tirou um pano preto que cobria
uma parede numa arrecadação que servia para arrumar instrumentos velhos
depressa identificou a sua caixa: tinha um autocolante que o seu irmão lhe
dera... Retirou a sua flauta mas quando, de repente, se apercebe de dois vultos
atrás de si, tocou na sua flauta as notas mais agudas que conseguiu e desatou a
correr... Nisto surgem a Mafalda e a Madalena, a professora Joana e a
polícia... Afinal, a professora conhecendo as suas alunas suspeitou de que
poderiam estar a fazer algo que poderia ser perigoso, pelo que deixou os
restantes alunos a ensaiar e quando encontrou a Madalena fê-la contar-lhe tudo;
chamou a polícia e...bem, os agentes prenderam a Inge e o Frank e recuperaram
todas as flautas assim que a Sofia lhes mostrou o local. Afinal, eles eram
ladrões de instrumentos musicais procurados por diversas polícias europeias que
nunca os tinham apanhado em flagrante, nem tinham conseguido provar que eram
eles os ladrões mas, agora, graças aos quatro amigos, nem a Inge nem o Frank
iriam voltar a roubar instrumentos musicais a quem tanto os estimava.
Os quatro amigos regressaram
a Portugal com os restantes membros do Ensemble; tinham apanhado o susto das
suas vidas mas a sua audácia tinha-os ajudado a recuperar as flautas intactas e
tinha-lhes permitido desfrutar do restante Encontro e fazer uma das coisas de
que mais gostavam na vida: Música.
Título: A gotinha solitária e triste
Autor: Sofia Montez
Mais uma vez tinha sido a última
gotinha…não tinha chegado a tempo de ir para o copo, tal como as suas colegas.
Como sempre, chegava atrasada ao seu destino, fosse ele de boca larga como uma
panela, ou de boca mais estreita como uma garrafa. Já era habitual, ela era a
gotinha desperdiçada que caía no vazio frio e solitário.
Entre as várias viagens, um dia foi
ter ao mar, mas nem aqui no meio de tantas gotas, ela conseguia ter amigos. Se
faziam uma corrida até à areia, ela nunca conseguia acompanhá-las, ia ficando
para trás, cada vez mais distante até que as deixava de ver. Parecia que as
suas pernas eram demasiado curtas e pesadas. Se subiam pela rocha acima para
darem um triplo salto para o mar, só lá chegava quando as outras gotinhas já
tinham desistido da brincadeira. Ora, assim era difícil ter amigos!!
Num final de tarde, o sol a
desaparecer no horizonte, a gotinha estava em cima da carapaça de uma tartaruga
quando sentiu uma gota a cair em cima dela o que provocou a queda das duas para
o mar.
- Desculpa, Gotinha! Sou a Gotinha
Cinza! O Cinza! E tu como te chamas?
- Sou a Gotinha Só! Como nunca
consigo acompanhar as minhas colegas, estou sempre sozinha. Daí ter ficado com
esse nome. E tu, donde caíste?
- Caí da casa da minha avó, aquela
nuvem ali em cima! Estava a espreitar-te, debrucei-me demasiado e caí!
- A espreitar-me!?
- Sim, já tinha reparado que andavas
sempre sozinha! Sabes, eu também fui para a casa da minha avó porque me sentia rejeitado
pelas outras gotas! Como viste há pouco eu sou um desastrado! Qualquer
atividade que tento fazer igual às outras gotas, comigo sai sempre errado, é
quase certo sair disparate…por isso deixei de conviver com as outras gotas e
refugiei-me na casa da minha avó.
- Hã! Apesar de seres desastrado, és
muito bonito!
- Queres ir morar para a casa da
minha avó? – perguntou Cinza.
- Claro! Assim fazemos companhia um
ao outro e à tua avó!
Sem comentários:
Enviar um comentário