23.5.19

"Uma Aventura Literária" - Menção Honrosa para a Diana Barreto

No âmbito do Concurso "Uma Aventura Literária", na modalidade "Texto original", a Diana Barreto, aluna da Oficina da Escrita, recebeu uma menção honrosa com o seu texto "Um olhar...um gesto...uma amizade". Trata-se de uma reflexão sobre a diversidade cultural e a integração social dos imigrantes.


"Um olhar...uma gesto...uma amizade"

"Era o meu primeiro dia de aulas após uma repentina mudança na minha vida. Eu, os meus pais e o meu irmão mudamo-nos para este país em busca de um emprego que faltava no país em guerra onde vivíamos. Estava um pouco receosa porque não sabia falar o novo idioma e por ser um pouco diferente dos outros.
O meu coração batia tão depressa como se estivesse a correr uma maratona. Agarrei as alças da minha mochila e dirigi-me ao portão da escola. Todos os alunos começaram a olhar-me de lado e a trocar ideias entre si numa linguagem incompreensível. Um rapaz mais velho veio ter comigo e, com um sorriso de gozo, atirou-me ao chão. Apetecia-me gritar, mas não conhecia ninguém. O rapaz foi ter com os seus amigos que começaram a rir-se de mim.
Uma professora ajudou-me a levantar. Com gestos, expliquei-lhe que apenas tinha caído após tropeçar numa pedra. Ela disse que se chamava Sara e eu apontei para mim e disse o meu nome: Amara. Após as apresentações, conduziu-me a uma sala e eu sentei-me numa das três cadeiras que lá havia. Começou a ensinar-me palavras básicas e importantes na nova língua. Uns minutos mais tarde, alguém bateu à porta e entrou. Reconheci aquela cara de imediato, era o rapaz que me tinha feito cair. Olhou para mim espantado, sentou-se na cadeira a meu lado pondo-a um pouco mais afastada de mim. Pelos vistos, o rapaz também era estrangeiro, mas não de pele negra como eu.
Ficámos uma hora sentados a aprender vocabulário básico e, nesta aprendizagem, descobri o nome dele. Ele chamava-se Michael e tinha vindo do Reino Unido. Quando a lição acabou, a professora Sara levou-me para uma sala, onde estava a minha futura turma. Procurei uma mesa vazia, mas tinha de me sentar ao lado de alguém. Senti repugnância em cada olhar dos meus novos colegas. Acho que a professora Sara percebeu a minha dificuldade em escolher um lugar, pois conduziu-me para o lado de uma menina que, naquele momento, desviou todo o seu material para o canto da mesa.
Nas semanas seguintes, continuaram com a mesma atitude em relação a mim. Agora, não só o grupo do Michael me fazia mal, como outros grupos da escola. Chegava a casa tão triste que não fazia os deveres nem estudava para os testes. Ia para a escola, todos os dias, com medo e desencanto e procurava evitar todos os colegas. Mesmo escondida, havia sempre alguém que me encontrava e maltratava. Foi num desses dias que tudo mudou.
Um grupo de rapazes e raparigas empurrou-me com tal violência que caí desamparada no chão. Não contentes com o que tinham conseguido, começaram a pontapear-me. Eu procurei proteger-me, mas pouco consegui. Eles eram muitos… eu, só uma. Entretanto, deixei de sentir os pontapés e, lentamente, afastei os dedos das mãos que tinha a cobrir a cabeça. Qual não foi o meu espanto, quando vi o Michael a afastar o grupo. Ajudou-me a levantar e eu murmurei “obrigada”. De seguida, entregou-me a carteira onde tinha a minha documentação e regressou ao seu grupo de amigos.
No dia seguinte, saí do autocarro e fui diretamente para a sala da professora Sara a fim de evitar qualquer colega que me pudesse agredir. Quando lá entrei, sentei-me e a professora começou a dar-me a lição. Mais tarde, chegou o Michael e a aula continuou de forma agradável. Pela primeira vez, vivenciava alguma felicidade naquela escola e senti uma motivação extra para aprender. Contudo, a aula chegava ao fim e tinha de me dirigir para a minha sala onde seria o início de mais um doloroso dia de aulas.
A meio da manhã, à hora do intervalo, um grupo de alunos voltou a agredir-me e a pontapear até que senti uma pancada forte na cabeça e, de repente, ficou tudo escuro à minha volta. Quando acordei, estava deitada numa maca e o Michael ao meu lado a olhar para mim com um ar preocupado. Uma funcionária perguntou-me se me sentia bem e se me doía a cabeça. Como respondi que estava bem, ordenou-nos que fôssemos para as aulas.
O Michael deu-me a mão para me ajudar a levantar. Em silêncio, acompanhou-me até à porta da sala. Aqui perguntou-me se eu estava bem. Acenei afirmativamente com a cabeça, agradeci e entrei na minha sala. Quando a aula acabou, o Michael estava lá à minha espera e acompanhou-me o resto do dia.
E assim foram as semanas seguintes. Aos poucos, integrei-me no grupo do Michael, que, entretanto, já não ia às aulas da professora Sara, e a minha turma começou a respeitar-me mais.
Nunca esquecerei os momentos que vivi quando era excluída e maltratada, apenas por ser de outra raça e ter outra cor. Felizmente alguém começou a olhar-me de forma diferente, alguém me deu a mão, alguém me ofereceu a sua companhia e a sua amizade.
A pensar na minha experiência e com o apoio da professora Sara, criamos, eu e o grupo do Michael, o Clube da Diversidade. A ação deste Clube é o de integrar todos os colegas que venham de novo para a nossa escola, independentemente da sua raça, cor, etnia, religião, género, deficiência ou condições económicas".

Muitos parabéns, Diana!
Adorei o texto, as ideias que defendes!

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